segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mais um Dia do Índio




Originalmente publicada em 19/04/2013 

O dia do índio é comemorado em 19 de abril no continente americano. Data simbólica em que são realizadas homenagens, a história é lembrada e discutimos mais sobre os problemas que os envolvem. Além das homenagens, sempre vemos manifestações dos próprios índios pelo país, com o objetivo de protestar contra injustiças e exigir o cumprimento dos seus direitos. 

Essa semana, cerca de 200 índios invadiram o plenário da câmara para protestar contra a PEC 215 ( Proposta de Emenda à Constituição ) , que transfere do poder executivo ( FUNAI ) ao Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil. Ou seja, deputados, inclusive os que representam a bancada ruralista ( que defendem os interesses dos latifundiários e produtores rurais ) podem votar e decidir sobre a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. De acordo com a proposta, o objetivo é que os critérios e procedimentos de demarcação sejam regulamentados por lei. 

No ano passado, houve uma grande movimentação nas redes sociais ( e algumas manifestações fora delas ) em defesa dos índios Guarani-Kaiowá, etnia que divulgou uma carta anunciando que os 170 homens, mulheres e crianças preferiam uma morte coletiva ao serem expulsos das terras localizadas no município de Iguatemi, no Mato Grosso Do Sul. A comoção que o caso trouxe aos brasileiros despertou novamente a nossa revolta perante ao problemas que índios enfrentam no Brasil. 

Geralmente, quem se interessa pela cultura indígena são historiadores, antropólogos e descendentes diretos. Em Ribeirão Preto, podemos encontrar o produtor de cinema e fotógrafo Giorgi Denner, que não se encaixa nos exemplos citados. Em 2007 ele visitou os índios Xavantes, da aldeia ETENHIRITIPÁ ( Pimentel Barbosa ) , na Serra do Roncador, Mato Grosso. A visita durou duas semanas e ele retornou mais quatro vezes. Denner conta que depois de fazer contato com o primeiro Xavante, acabou sendo nomeado espiritualmente irmão do cacique. 

Essa primeira visita, deu origem ao documentário “XAVANTE, Guardiões da Serra do Roncador”. Giorgi relata que esse primeiro contato foi emocionante, porque já pôde entrar em cerimoniais que praticamente outros canais de comunicação não entraram, as imagens lhe foram confiadas pelo trabalho em conjunto. Foi realizado um filme narrado na língua deles, pelo próprio Cacique e outro narrado na “nossa” língua. 
O filme mostra vários cerimoniais da aldeia, como as corridas de tora, entrevistas com anciões e principalmente o dia a dia deles. A gravação do documentário e as quatro visitas posteriores geraram mais de 34 horas gravadas e um grande acervo de fotos. 

Além dos Xavantes, Giorgi visitou no Pará os Kayapós, etnia que habitava a região de Ribeirão Preto, e depois seguiu para o Peru, onde esteve duas vezes. No Peru ele procurou fazer um ensaio buscando o passado histórico, fotografando o material Inca. Lá ele percebeu uma cultura muito destrutiva, e tentou buscar as raízes, conversar com pessoas que representam a cultura que resistiu até agora, que sobrevivem da mesma maneira, quase igual ao passado, afastados, falando línguas diferentes. Nessas duas visitas ao Peru, ele tirou muitas fotos, que resultou na exposição “Umbigo do Mundo”, exibida no shopping Santa Úrsula em 2009, que contava com imagens fotográficas da região de Cuzco, cerca de 50 peças de artesanato e um painel de um grande pico nevado. Giorgi pretende voltar ainda esse ano para filmar, e está planejando fazer todo o roteiro anterior, pensando nos povos. 


No Brasil, Giorgi pretende ainda conhecer de 10 a 20 etnias, das 230 que existem aqui, fazendo um trabalho sério, não só pela aldeia, mas um desenvolvimento com eles, para trazer um resgate, e não somente um trabalho aleatório

O produtor quer fazer um filme em conjunto com os índios, colocar leis, dando assim retorno com direitos autorais, que iriam para a comunidade. “Não adianta dar dinheiro para eles porque eles comprariam televisão, bugigangas nossas. Isso acaba com a cultura deles, a gente tem que sentir a sociedade, ver a necessidade e deficiências deles e tentar associar isso, dar dinheiro é ajudar a destruir a cultura deles.”, desabafou. 


Sobre a destruição da cultura indígena, Denner citou o exemplo de uma série de 10 filmes realizados no Xingu na década de 80, que mostrava os índios nus, numa vida muito tranquila. Os direitos autorais foram bons naquele período e dez anos depois os próprios índios reclamavam que as mulheres não queriam mais tirar a roupa, os índios iam para o rio de bicicleta, de moto, de trator, porque o dinheiro propiciou isso. 
Além desse caso, Giorgi também contou que, apesar do primeiro contato com os índios Xavantes ser de 1950, eles diminuíram cerca de 30 centímetros de altura, por conta do óleo e do açúcar e que há uma alta incidência de diabetes entre os índios da aldeia. 


As visitas à aldeia dos Xavantes e a tribo dos Kayapós resultaram na exposição realizada em 2008 também no shopping Santa Úrsula intitulada “GÊNESIS”. A exposição foi o primeiro evento do estado de São Paulo a unir as etnias Xavante e Kayapó, e era composta por fotos de artesanatos, exibição de documentários sobre as etnias em salas de cinema, fórum de discussão cultural e ambiental com a participação de índios Xavante e Kayapó e palestras informativas e culturais. Já no ano seguinte foi realizado o projeto “Gênesis – Exposição Fotográfica dos povos indígenas das etnias Kayapó e Xavante, Patrimônio Histórico da Civilização Inca Peruana e Cordilheira Andina”, no Museu do Café. 

Projetos futuros: 

Giorgi já apresentou à secretaria do Turismo de Ribeirão Preto uma proposta de um centro de estudos etnológicos na cidade. Ele acha que o museu pode ser uma base para defesa da história dos índios no Brasil, que ainda é pouco conhecida ou estereotipada. 
Ele também pretende fazer uma viagem ao México ainda esse ano para gravar dois documentários: um sobre a civilização asteca e outro sobre a civilização maia, além de produzir uma revista. Na viagem de volta ele pretende passar por dez países, encerrando pelo Peru. O resultado dessa viagem será a montagem de uma nova exposição com local a ser definido.











Fotos: Giorgi Denner 

Valter Campanaro - Agência Brasil


Matéria:  Daniela Teixeira: daninanda@hotmail.com

Um comentário:

  1. Giorgi, belo trabalho voce está fazendo e merece todo respeito e apoio de nossa Sociedade.
    Dessa proposta que apresentou à secretaria do Turismo de Ribeirão Preto da criaçao de um Centro de Estudos Etnológicos na cidade e que Museu do Café de Ribeirao Preto pode ser uma base para defesa dos Índios e da história dos índios no Brasil,que ainda é pouco conhecida ou estereotipada,VOCE já obteve algum retorno????!!!.

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